v. 1, n.1 (2024) O que resta da ditadura?
Editorial
No fim de março a assembleia da nossa seção local foi inicada com um convite do Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania. A partir daí construiríamos, junto a outros movimentos, a atividade que veio a se chamar "Nem esquecimento, nem conciliação!". A sós, depois do convite, o silêncio deu lugar a diferentes perspectivas de diálogo, de pontos de vista para o mesmo problema que vem perdurando: a ditadura de 1964. O convite suscitou esta publicação, aberta para diferentes vozes que as leitoras e os leitores ora têm em mãos, lançada na efetivação do que a fecundou.
O Golpe Militar de 1964 que instaurou uma ditadura de 21 anos no Brasil criou estruturas sociais, políticas e econômicas que ainda permanecem arraigadas em nossa história de forma profunda e contraditória. 60 anos após o Golpe, a institucionalização da máquina repressora e do discurso do inimigo interno são dispositivos ainda permanentes, cuja violência Estatal e paraestatal não são dissociadas da emergência da extrema-direita e da regulação armada da vida social na crise do capitalismo brasileiro. A militarização do cotidiano conecta-se, desse modo, com a ausência da justiça e elaboração da memória histórica dos crimes cometidos e ainda em execução da ditadura militar: assassinatos, torturas, prisões e ocultamento de cadáveres, radicalizados com a presença de grupos milicianos. O discurso da vitória da democracia oculta problemáticas que apontam para uma duradoura permanência de aparatos constitutivos do regime militar, bem como nos impossibilita a criação de um horizonte de transformação político que aponte questões fundamentais, como por exemplo: qual o lugar ainda hoje das Forças Armadas e a sua relação com a política? O que a violência Estatal e paraestatal guardam da ditadura?