NOTA DE REPÚDIO AO ATAQUE/CENSURA SOFRIDO PELO DIRETOR/PROFESSOR DA ESCOLA MUNICIPAL MACHADO DE ASSIS/ CONTAGEM/MG

05-08-2020

A Associação dos(as) Geógrafos(as) Brasileiros(as), Seção Local Belo Horizonte (AGB-SLBH), vem publicamente repudiar os ataques, vinculados em redes sociais, que o Professor de Geografia e Diretor da Escola Municipal Machado de Assis, Mateus Cotta Ribeiro, tem sofrido, desde o dia 01 de agosto do ano presente. Nestes ataques, uma usuária de um grupo de Facebook vincula imagens e vídeos do professor a mensagens que buscam atacá-lo, por ter colado no mural da escola uma charge do cartunista Renato Aroeira que alude criticamente ao ato extremamente irresponsável e violento do presidente do Brasil, ao convocar cidadãos a invadir hospitais (em meio a uma pandemia que já ceifou quase 95.000 vidas em nosso país) com o intuito de vigiar/regular/afrontar trabalhadoras(es) da saúde que ali estão a lutar contra a infame doença, sem apoio algum do governo nacional. Por fim, a autora da mensagem convoca seus leitores a denunciar o professor/diretor nos órgãos oficiais de ensino e educação do município.

Como entidade historicamente envolvida com a defesa da educação, do ensino e da geografia como possibilidades/realidades de formação crítica, reflexiva, dialógica, dialética e libertária, solidarizamos-nos com o docente que, neste momento, reflete em seu caso singular uma miríade de outros casos de semelhante conteúdo, que tem, lamentavelmente, ocorrido em diversas salas de aula e escolas por todo o Brasil. A ascensão de um governo de conteúdo fascista, racista, homofóbico, patriarcal, ultraconservador, alinhado ao capital financeiro internacional e com claras evidencias de envolvimento e participação nos crimes das milícias cariocas, trouxe ao país 1 Publicada originalmente no blog do jornalista Ricardo Noblat consequências as mais perversas em campos diversos. Dentre estes, o campo da educação. Useiro campo de ataque de todo poder conservador, a educação, neste momento histórico, tem passado por lutas outras, que sinalizam um estado de coisas, minimamente contraditório. É o retorno à censura, à mordaça, que toda a roupagem fascista do governo atual colaborou para exacerbar com suas ações e atitudes.

Em todo o país, assistimos boquiabertos a estudantes e familiares denunciarem professoras e professores pelo que ensinam em sala de aula, comumente a cofundir conhecimento com doutrinação. Esquecem-se, no entanto, de premissas, por assim dizer, básicas da educação nacional: a liberdade de cátedra ( "liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber"defendida no artigo 206 de nossa Constituição e também presente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96), o "pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e o respeito à liberdade e apreço à tolerância" (LDB, 1996). 

Movimentos como o famigerado "Escola sem partido" estimulam a vigilância aos docentes, pois, confundem na origem a diferença entre conhecimento e ideologia. São, pois, ideológicas(os), isso sim, práticas e técnicas que visam constranger as(os) professoras(es) em seu trabalho cotidiano, currículos normativos que visam prescrever um conhecimento hermético e recortado por fora da sala de aula e alheio aos estudantes e suas particularidades como sujeitos socioculturais no/do mundo, métodos de intensificação e precarização do trabalho docente, sistemas de controle e vigilância do trabalho docente que interfiram (in)diretamente em seu trabalho intelectual e pedagógico (pois, docentes, são trabalhadores intelectuais, artesãos do conhecimento). 

Por fim, o que é violento e digno de censura, a nosso ver, não é o fato, per se, de um diretor escolar e professor buscar informar e debater com seus estudantes e comunidade escolar um fato do tempo presente através de um recurso pedagógico como uma charge. O que é flagrantemente violento é que o mesmo seja exposto e constrangido por buscar realizar seu trabalho com a seriedade e capacidade de crítica que nosso momento histórico, mais do que nunca, exige de todos. Desta forma, reiteramos nosso apoio ao professor/diretor Mateus Cotta Ribeiro e manifestamos todo nosso repúdio àqueles que buscaram constrangê-lo, assim como a todos aqueles que possam vir a ser coniventes com este tipo de afronta à educação!

Imagem 1: Charge do cartunista Renato Aroeira que veio a sofrer represália por sua manifestação artística/informativa.
Imagem 1: Charge do cartunista Renato Aroeira que veio a sofrer represália por sua manifestação artística/informativa.
Imagem 2: Recriações de outros cartunistas em solidariedade à Renato Aroeira.
Imagem 2: Recriações de outros cartunistas em solidariedade à Renato Aroeira.

Associação dos Geógrafos(as) Brasileiros(as) - seção local Belo Horizonte (AGB-SLBH) Belo Horizonte, 5 de agosto de 2020 

Associação das Geógrafas e Geógrafos Brasileiros - Seção Local Belo Horizonte
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